Corruptos e analfabetos políticos
António Ozaí da Silva
Shakespeare, célebre conhecedor da natureza humana, faz com que Ângelo, em Medida por medida, pronuncie as seguintes palavras:
“Uma coisa é ser tentado e outra coisa é cair na tentação."
O espetáculo da corrupção enoja e torna a própria atividade política ainda mais desacreditada. Os que detestam a política – como diria Brecht, os analfabetos políticos – regozijam-se. Os podres poderes fortalecem os argumentos pela indiferença e o não envolvimento na política. É o moralismo abstrato e ingênuo que oculta a ignorância e dissimula a leviandade egoísta dos que não conseguem pensar para além do próprio bolso.
O analfabeto político não sabe que sua indiferença contribui para a manutenção e reprodução desta corja de ladrões que, desde sempre, espreitam os cofres públicos, prontos para dar o golpe à primeira oportunidade que surja. Os analfabetos políticos não vêem que lavar as mãos alimenta a corrupção. Quem cultiva a indiferença, o egoísmo ético do interesse particularista, é conivente com o assalto ou é seu beneficiário. O que caracteriza a república é o trato da coisa pública, responsabilidade de todos nós. Como escreveu Rousseau: “Quando alguém disser dos negócios do Estado: Que me importa? – pode-se estar certo de que o Estado está perdido”.
Eis o duplo equívoco: nivelar todos os políticos e debitar a podridão apenas a estes. Os políticos, pela própria atividade que desempenham, estão mais expostos. No entanto, não há corrupção, sem corruptores e corrompidos. Pois, se a ocasião faz o ladrão, a necessidade também o faz. Não sejamos hipócritas.
Exigimos ética dos políticos como se esta fosse uma espécie de panaceia restrita ao mundo – ou submundo – da política. Mas, e a sociedade? Se o ladrão rouba um objeto e encontra quem o compre, este é tão culpado quanto aquele.
Ah! Não fazemos isto! E os pequenos atos inseridos na cultura do jeitinho brasileiro não são formas não assumidas de corrupção? Quem de nós ainda não subornou alguém? Ou não vivemos numa sociedade onde honestidade é sinônimo de burrice, de ser trouxa, etc.? E como correr o risco de ser bobo quando a sociedade competitiva premia os mais espertos, os mais egoístas, os mais ambiciosos?
A bem da verdade, o ladrão aproveita a ocasião. Quem de nós nunca foi tentado? Quem de nós não cometeu algum deslize quando se apresentou a ocasião? Quem foi tentado e não caiu em tentação? Quem conseguiu manter a coerência entre pensamento e ação, discurso e prática? Os homens são julgados por suas obras e apenas através delas é que podemos comprovar a sua capacidade de resistir à tentação. Afinal, como afirma Shakespeare: "A lei não alcança os pensamentos e as intenções são meros pensamentos".
O analfabeto político demoniza a tentação da política. Seu prêmio é a ignorância. E, muitas vezes, enojados e cansados diante do espetáculo propiciado pelos governos que se sucedem, somos tentados a imitá-lo e sucumbir à rotina do cotidiano que consome nossos corpos e pensamentos e nos oferece a substância anestésica capaz de dar a ilusão da felicidade.
Bem que tentamos ficar na superfície das aparências e nos contentarmos em, como os demais animais, simplesmente consumir e reproduzir. Mas só as bestas de todo tipo não refletem sobre a sua situação no mundo. Por mais alienado que seja, o ser humano tem condições de pensar criticamente, de compreender e de projetar seu próprio futuro. Esta pequena diferença em relação aos demais animais é que o torna o único animal capaz de produzir cultura e de fazer sua própria historia.
Não basta apenas criticar os que caem em tentação, é mister superar o comodismo do analfabetismo político. Pedagogicamente, educamos pelo exemplo. Não podemos exigir ética na política ou formar uma geração cidadã, consciente dos seus direitos e deveres e capaz de assumir a defesa da justiça social, se nossos exemplos afirmam o oposto. Afinal, mesmo os ladrões têm a sua ética. O personagem shakespeareano tem razão...
*Vale mencionar, referente ao dia 19/07 (meu aniversário, desabamento do edif. Santa Fé) a morte do Professor e comunicador Clóvis Duarte; em 1996, durante a nossa greve, o programa Câmera Dois e seu apresentador, Clóvis Duarte, diariamente mencionava a situação dos servidores de Capão da Canoa e suas famílias. Também relatou para todo o estado, elogiando a atitude do nosso sindicato e dos servidores, o nosso retorno ao trabalho com a nova administração, evidenciando o esforço e competência do prefeito LB, que em menos de 30 dias pagou os salários em atraso.
* Frase do dia: O problema dos sinceros? achar que todo mundo é...
Silvia Meister, simplesmente...
Pois é... tudo igual como sempre.
ResponderExcluirEsse urubu, vai continuar sobrevoando enquanto lhe derem asas...
Se os subalternos tomam atitudes indignas, quem tem que corrigir é o 1º. mandatário, afinal, ele sempre será responsabilizado.
Mas, como ele não ouve e não vê, a nossa única saída é depenar o urubu na próxima eleição; se derrotaremos nosso próprio colega, paciência...
Se ele nos tivesse apreço, não permitiria as ações nefastas. manteria na coleirinha, o povo que ele trouxe pra dentro de casa. Se não o faz, é sinal que dá valor somente àqueles; e sendo assim, que aguente as consequencias de suas escolhas.
Mas, te anima! Para darmos adeus sorrindo e felizes para alguns, (embora sempre tenha aqueles de quem vá se sentir saudades) falta 17 meses e alguns dias.
Quanto ao nosso colega, lamento. Vai pagar o preço por dar ouvidos somente aos nefastos.
Nunca tinha ouvido falar do autor desse texto;
ResponderExcluirmas ele vai direto ao ponto.
Quantos de nós, no caixa do supermercado, reclamamos quando recebemos o troco a menor, mas não devolvemos quando recebemos a maior... a nossa sociedade continua vivendo conforme a famosa lei de gerson: levar vantagem em tudo.
E a ética, a moral, os bons costumes?
Chegamos ao cúmulo, em que honestidade deixou de ser qualidade; e quanto mais apadrinharem, fizerem vistas grossas, mais estarão incentivando a desonestidade, a deslealdade.
Mas, um pouco é produto dos valores que recebemos, ou da falta deles...
Consegues imaginar de que família é produto o urubu? Quem prima pela deslealdade, quem é oportunista, não pode ter se originado de pessoas de bem... que repassaram valores morais e éticos... consegues imaginar filhos de pessoa assim?
É por isso que o caos instalou-se pra ficar na nossa sociedade.
Tudo é uma questão de valores; os princípios básicos da sociedade que nos foram repassados e que procuramos repassar para nossos descendentes. Tu te saíste muito bem nisso. Teus filhos são exemplos.
ResponderExcluirSe estivessem acostumados a ver-te resolver tudo no jeitinho, a não ter escrúpulos para atinjir teus objetivos, se não tivessses imposto limites, seriam iguais aquelas criaturas que tanto se manifestaram neste blog.
Aquilo foi tão marcante pra mim, que é inesquecível. Sempre que me refiro a falta de ética, de caráter, de moralidade, de civilidade, de amor, lembro-me das criaturas.
E hoje te digo: Não pouparam golpes para atingir seus objetivos, porque foram educadas assim (ou deseducadas?) cresceram assistindo a utilização de golpes e espertezas e hoje se utilizam dos métodos que lhes foram repassados.
E é isso que repassarão aos seus filhos - pobres criaturas - É a cultura da indignidade que se propaga de geração à geração.
Acredite! Se elas não tivessem recebido esse tipo de orientação, seriam diferentes.
A Mãe deve ser um primor... bem, o Pai demonstrou bem o que é...
E assim, nossa pobre sociedade fica cada vez mais apodrecida.
E 90% dos Pais, esperando que a escola repasse valores, que é função da família.
É complicado... mas, se eu pensar muito no assunto, começo a me questionar como educador...
tipo: de que adianta repassar conhecimentos, se a base (os ensinamentos originados pelos pais) está aprodecido? Dá vontade de desistir...
Grande beijo.
Esse texto diz tudo!
ResponderExcluirE o quanto devemos insistir em passar as coisas corretas para nossos filhos.
Afinal, no momento que decidimos ter filhos, temos por obrigação fazer o máximo para que sejam do bem, e isso começa dentro de casa, com o aprendizado do respeito por tudo e por todos, inclusive Pai e Mãe.
Concordo com Ique totalmente!
As atitudes denunciam o meio de que proviemos.
Leia bastante sobre famílias disfuncionais, abuso emocional e pessoas perversas e publique o assunto. Verás como é interessante.
Quanto ao urubu plantonista, lute bastante para se livrar dessa coisa... que aliás, o serviço público não merece.
Esse assunto é prá lá de polêmico...
ResponderExcluirE muito oportuno. Me faz pensar em muitas coisas do dia a dia. Coisas que até achamos normais; é, porque passamos a banalizar a corrupção, a imoralidade e outras coisas do gênero.
Quanto ao urubu, acho que deves ignorar.
Se a coisa quer tanto aparecer, não medindo ações para isso, o grande lance é ignorar.
Não se pode dar cartaz pra esse bicho lazarento.
Oi!
ResponderExcluirLegal esse texto; mas, de ladrão, de corrupto e de louco, todos nós temos um pouco...
Ah, não chame de urubu a pessoa horrorosa... os urubus não merecem isso!
Vais contar o autor da piada? Que piada?
Aquela, do TC vistoriar terreno baldio...
Porque será que eles não olham as construções na cidade e perguntam porque está sendo construído tanto e arrecadado tão pouco, né?
Se educamos pelo exemplo, o que temos recebido publicamente através dos políticos, é como tornarmos tão safados quanto eles; é claro se tivermos as mesmas chances que eles tem, de acesso ao dinheiro público.
ResponderExcluirTemos é que ter cuidado na hora de dispensar o nosso voto.
Quanto a criatura do mal a nível local, é só aguardar... nem sempre haverá alguém que apadrinhe; aí, é que vamos ver...
Acho que a corrupção nasceu junto com o Brasil.
ResponderExcluirComo não temos como recomeçar do zero, o jeito é ir amenizando, tentando reverter o processo de deterioração total da sociedade. Como? começando por nós mesmos, com nossos filhos e familiares.
É um processo lento e difícil, mas não podemos desanimar. Se conseguirmos varrer as espertezas, os golpes, as artimanhas e o se dar bem das nossas casas, já é uma grande vitória.
Somos educados pelo exemplo... e o que estamos recebendo é péssimo. Desmontam os setores e ainda se dão o desfrute de reclamar das fiscalizações, mas é só pra fazer de conta que estão preocupados com os contribuintes.
ResponderExcluirEntão, seguindo o exemplo que temos recebido, exploda-se o mundo! e continuemos a fazer de conta!
Sentindo falta de você, de seus comentarios em meu Blog. Por andas amiga? Um abraço.
ResponderExcluirpor onde andas minha amiga. Um abraço!
ResponderExcluirAmei de paixão o tema abordado.
ResponderExcluirrealmente temos que começar mudando nossas atitudes e revendo nossos conceitos dentro da nossa casa e no nosso local de trabalho.
É difícil? É! Mas se não tentarmos, não teremos cumprido nosso papel de cidadãos e assumiremos definitivamente a postura de cidadãos de papel.